sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Era dia de sol

O morro acordava
Crianças brincando ainda com alguma ilusão.
Dona Maria colocando as roupas brancas do seu filho para alvejar.
Esse tentava ganhar a vida honestamente,
Trabalhava na repartição pública
Enquanto o outro, se perdera há muito,
Ele cuidava do tráfico.
Como pode dona Maria?
Dois filhos tão diferentes?
Amanhecia, tiros começaram a vir do céu,
Centenas, milhares de tiros,
A policia, sem piedade,
Atirava para matar
E as crianças a correr
As donas Marias, a pegarem seus filhos assim como se tenta salvar uma cria.
E os tiros
E os tiros
E os tiros
Davam uma trégua,
E Ai dona Maria?
E era seu filho que eles queriam
E agora dona Maria,
Teria de suportar a dor
Pois eles o achariam
Como?

Eles trocavam tiros e tudo acontecia
As crianças gritavam, as mães choravam,
Os ladrões tinham medo,

E os aviões voavam.
Balas eram atiradas
Como troféu da violência
Sem respeito ao outro
Sem respeito à dignidade
E depois de muitas horas
E ai dona Maria depois de muitas horas o seu filho mataram
O morro silenciou
O pranto se estendeu
E o grito de mãe
Fez-se ouvir pelos quatro cantos
Quando amarraram o seu corpo
E o exibiram igual a um troféu pelas ruas da cidade
Quando passava
Pendurado assim
O povo dizia
Bem feito
Lá vai mais um
Mas se esqueciam que atrás daquele corpo existia dona Maria
Que corria enquanto o corpo do filho pendurado passava
Queria alcançá-lo
Afaga-lo
Mas assim o levaram
E ela nunca mais soube dele
E amanheceu
Ela voltou para o tanque
Para lavar a roupa,
Pois seu filho,
Vai trabalhar
A roupa tem de estar branca
Mesmo que a alma esteja suja de sangue,
Do filho que partiu.
Ela estende a roupa para alvejar
E começar a rezar
Para esse filho nunca mais parar de trabalhar.

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