segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Cotidiano

O trem abre as portas e todos entram,

Eu fico a pensar como agüentam,
Entra feio, entra bonito,
Entra alto, entra baixo,
E aquele perfume, que uma vez você encostando nunca mais se recupera.
Começam, entrando todos, por aquelas portas até tocar o sinal.
A porta vai fechar!E eu me pergunto,
Como?
A gorda entalada entre o ferro e o banco, seu corpo se ajustando, com suas banhas a modelar suas esperanças.
Têm de tudo, os que se aproveitam para encostar,
Os que aproveitam para peidar,
Achando que ninguém sentiu.
E, aqueles que fazem, aquele barulho irritante nos dentes tentando tirar um fiapo sabem Deus há quando tempo.
Elas se sentem lindas, eles poderosos.
Têm também, aqueles que fingem que não estão olhando, você olha e pronto,
Eles desviam o olhar,
Começou a redenção,
Ela fica com vontade de olhar, só pela curiosidade de saber se a pessoa está olhando.
Pronto! Olhou,
Claro! Foi pega. Uma mistura de susto e raiva,
Ficará com dor no pescoço o resto da viagem, pois para aquele lado não poderá olhar mais.
E o pior, o trem para na próxima estação,
A plataforma lotada
As portas se abrem, e quem está dentro não consegue sair, e quem está fora consegue entrar,
A situação vai ficando cada vez pior
O nariz coça
Mas a mão está entalada entre a perna de um e de outro,
Então com um enorme esforço, começa a liberá-la,
Mas entala novamente, embaixo de uns peitos enormes siliconados, e não há meio de se chegar até o nariz.
A coceira aumenta e lá vai um espirro, e todos falam:- calma ai! Meu irmão, vai espirrar logo agora?
E lá vai a secreção ,elegantemente falando, ficou grudada num cabelo lotado de laquê,
Estará para sempre perdida.
Socorro ainda chama isso de vida?
Duas horas de viagem
Pronto! O ponto final.
E ai sim, começa o dia,
Para a tal corrida,
Para pegar o trem de volta,
Quem sabe chegando cedo, ainda consiga entalar-se, sentar entre bundas e peitos.
E assim volta para o seu lar
Para o marido nem olhar
Faz a janta
Abre as pernas
E vai deitar
Para no dia seguinte tudo mecanicamente recomeçar
E rezar para o trem não parar
Pois senão terá de pensar
Pois o trajeto mudará
E ai meu irmão?
Como é que ficará?
Realmente terá de pensar
Até tudo recomeçar.

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